Camila Pires
E de repente tudo perde a graça. Tudo, de repente, perde a cor. De repente os pássaros não cantam, o vento não sopra. De repente a vida pára, sem encontrar sentido pra continuar.
De repente eu percebo que as pessoas não são as mesmas, as ruas não são as mesmas, os gestos, os gostos, os sorrisos. Eu percebo que não tenho mais os abraços, os carinhos estão mudados, eu não estou no mesmo lugar.
Tudo é novo, tudo é estranho e tudo o que antes fazia parte do dia-a-dia parece se esvair como respingos de água sob o sol. Não sei o que faz sentido e o que deixou de fazer. Não sei há quanto tempo o sentido de tudo se foi. Há quanto tempo eu estou perdida, sem me dar conta das distâncias, das saudades? Há quanto tempo meu filme passa em preto e branco e eu me arrasto, como quem procura retorno num caminho que não se pode voltar?
Não se trata de desistir de tudo. Trata-se de uma insegurança, uma incerteza, uma abstinência que parece só querer dificultar.
E de repente eu choro. Choro com o que sinto, com o que vejo, com o que lembro e o que deixo de lembrar. De repente, eu percebo os motivos...
Hoje acordei, e percebi que você não estava lá.
Hoje percebi o tamanho da falta que tudo me faz. O tamanho da dor que isso me traz.
Hoje percebi que não tenho as velhas palavras pra me acalmar, os velhos sorrisos pra reconfortar, os velhos afagos, as velhas mãos dadas, o velho caminho que nos fez mudar.
Hoje, porém, eu sinto que esse tempo ainda se guarda dentro de mim. Sinto que, quem sabe, ele possa despertar.
Hoje sei que tudo que se foi, um dia volta. Hoje digo que pago pra ver esse dia voltar.
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Nada além de um vício.
Letras e palavras que se desembaralham,
trazendo versos que, às vezes sem sentido, traduzem exatamente o que se passa aqui dentro.

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